Alfama – O bairro onde nasci !
Da janela de guilhotina, do meu quarto
Escancarado ao sol - festival
de luz.
Onde gatos, estatelados, dormiam -
eu via o Tejo, a espreguiçar-se até a foz
Faluas, tantas ,a cruzarem, carregadas
todo o pano,sulcando o rio, azáfama atroz
Alfama – O bairro onde nasci !
De gente pobre e de muito trabalho -
algum tempo, com minha mãe, ali vivi.
Bairro de marinheiros e estivadores
De muita História: da era dos Descobridores
Jogados em caravelas
- trabalho forçado,
heróis à força – da tristeza nasceu o fado
Comandantes das naus - os seus senhores!
Alfama – O Bairro onde nasci !
Tudo mudou no tempo, entretanto, envelheci.
Não vejo os gatos ,nos telhados, refastelados
Nem as faluas garbosas, sulcando o Tejo.
Nem os golfinhos emergem com as suas danças
A chita dos vestidos das raparigas, deu lugar à ganga
Como as tabernas esconças, de corvos à porta,
voltaram casas de fados, agora são propaganda!
Junho 2014
Sei o que é sentir essa saudade, essa nostalgia
ResponderEliminardas saudades da meninice que foi-se para os olhares
alheios, que só vivem dentro de nós, das nossas lembranças.
Eis cá a riqueza, a dádiva da poesia, fazer o milagre
do que morre permanecer vivo para sempre após nós e
nossos suspiros.
Também tenho tantas e muitas vezes esse lembrar,
esse suspirar da menina que fui e que não fui.
Das brincadeiras singelas e puras, sem a sofisticação
actual que vejo nas miúdas com seus tablets e telemoveis.
Na rua que nasci a casa ainda está em pé,transformada
em mercearia, se bem que ainda da família, vá lá
e nas ruas que cresci, a maioria das casas foram deitadas
abaixo e no lugar delas imensos prédios, no jardim o alcatrão,
o sofisticado da arquitectura moderna, nada mais lembra o chafariz, o monturo,as flores selvagens cultivadas pela vizinhança.
O homem do leite já não grita mais, já não fazemos festa
na fila da merenda, nem corremos mais atrás do carro pipa
e a noite... A noite não ouve-se mais a algazarra da criançada
brincando de bila e três solto,nem as mãe a rirem-se tagarelas
espreitando tranquilas os filhos no terreiro de terra vermelha.
A noite d'oje em dia é sombria, solitária, vazia de paz,
repleta de pavores, violência,morta de poesia.
De tudo só resta o lembrar e buscar na memória com
quem compartilhar, quem acaso ainda lembra-se e
troca o saudoso sorriso do nunca mais.
Por isso meu Anjo compreendo-te perfeitamente bem.
Esse sentir cheio de penas como tão pena canta
essa nossa genial fadista.
Mas vamos em frente afinal não vive-se só lá de trás,
o agora vale muito
e o futuro ainda nos seduz não é?
ILY
Querida Roni - Não serias poeta se não houvesse em ti a palavra saudade!
ResponderEliminarUm poeta, também é isso: são recordações, breves momentos em que imagens passam, cheiros que se identificam, sons que nos lembram vivencias! Oh como é tão nossa, esta palavra Saudade, tão ligada ao Mar!
Parabéns querida - Bem Hajas pelo teu partilhar da minha alma!
Beijos ILY
Lá no fundo somos um poço de saudades,ancorados pelas lembranças de uma tempo de feliz idade, de um tempo romântico.
ResponderEliminarO progresso que tudo leva exceto estas nossas lembranças, que aqui se encaixam belamente em poesia.
Bela construção Helder.
Prazer em conhecer sua inspiração.
Meu terno abraço.
Bem HajasAntónio Reis - Pela presença e pelo comentário
ResponderEliminarUm abraço
É bom ter essas lembranças bonitas, reviver uma a uma faz bem para alma,afinal a vida é isso mesmo más e boas lembranças.
ResponderEliminarFiquemos com as boas.
Bela Alfama,bela Lisboa,belo Fado.
Bem Hajas Story, Pela presença e pelo comentário
ResponderEliminar