DICOTOMIAS

MEMÓRIAS, CONTOS E POESIA por Hélder Gonçalves

Musica de Fundo

sábado, 5 de julho de 2014

O Bairro onde Nasci -







Alfama – O bairro onde nasci !

Da janela de guilhotina, do meu quarto
Escancarado ao sol  - festival de luz.
Alcandorado em assimétricos telhados,
Onde  gatos,  estatelados, dormiam -
eu via o Tejo, a espreguiçar-se até a foz
Faluas, tantas ,a cruzarem, carregadas
todo o pano,sulcando o rio, azáfama atroz

Alfama – O bairro onde nasci !

De gente pobre e de muito  trabalho -
algum tempo, com minha mãe, ali vivi.
Bairro de marinheiros e estivadores
De muita História: da era dos Descobridores
Jogados  em caravelas -  trabalho forçado,
heróis à força – da tristeza nasceu o fado
Comandantes das naus -  os seus senhores!

Alfama – O Bairro onde nasci !

Tudo mudou no tempo, entretanto, envelheci.
Não vejo os gatos ,nos telhados, refastelados
Nem as faluas garbosas, sulcando o Tejo.
Nem os golfinhos emergem com as suas danças
A chita dos vestidos das raparigas, deu lugar à ganga
Como as tabernas esconças, de corvos à porta,
voltaram casas de fados,  agora são propaganda!



Junho 2014

6 comentários:

  1. Sei o que é sentir essa saudade, essa nostalgia
    das saudades da meninice que foi-se para os olhares
    alheios, que só vivem dentro de nós, das nossas lembranças.

    Eis cá a riqueza, a dádiva da poesia, fazer o milagre
    do que morre permanecer vivo para sempre após nós e
    nossos suspiros.

    Também tenho tantas e muitas vezes esse lembrar,
    esse suspirar da menina que fui e que não fui.

    Das brincadeiras singelas e puras, sem a sofisticação
    actual que vejo nas miúdas com seus tablets e telemoveis.

    Na rua que nasci a casa ainda está em pé,transformada
    em mercearia, se bem que ainda da família, vá lá
    e nas ruas que cresci, a maioria das casas foram deitadas
    abaixo e no lugar delas imensos prédios, no jardim o alcatrão,
    o sofisticado da arquitectura moderna, nada mais lembra o chafariz, o monturo,as flores selvagens cultivadas pela vizinhança.

    O homem do leite já não grita mais, já não fazemos festa
    na fila da merenda, nem corremos mais atrás do carro pipa
    e a noite... A noite não ouve-se mais a algazarra da criançada
    brincando de bila e três solto,nem as mãe a rirem-se tagarelas
    espreitando tranquilas os filhos no terreiro de terra vermelha.

    A noite d'oje em dia é sombria, solitária, vazia de paz,
    repleta de pavores, violência,morta de poesia.

    De tudo só resta o lembrar e buscar na memória com
    quem compartilhar, quem acaso ainda lembra-se e
    troca o saudoso sorriso do nunca mais.

    Por isso meu Anjo compreendo-te perfeitamente bem.

    Esse sentir cheio de penas como tão pena canta
    essa nossa genial fadista.

    Mas vamos em frente afinal não vive-se só lá de trás,
    o agora vale muito
    e o futuro ainda nos seduz não é?

    ILY

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  2. Querida Roni - Não serias poeta se não houvesse em ti a palavra saudade!
    Um poeta, também é isso: são recordações, breves momentos em que imagens passam, cheiros que se identificam, sons que nos lembram vivencias! Oh como é tão nossa, esta palavra Saudade, tão ligada ao Mar!
    Parabéns querida - Bem Hajas pelo teu partilhar da minha alma!
    Beijos ILY

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  3. Lá no fundo somos um poço de saudades,ancorados pelas lembranças de uma tempo de feliz idade, de um tempo romântico.
    O progresso que tudo leva exceto estas nossas lembranças, que aqui se encaixam belamente em poesia.
    Bela construção Helder.
    Prazer em conhecer sua inspiração.
    Meu terno abraço.

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  4. Bem HajasAntónio Reis - Pela presença e pelo comentário
    Um abraço

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  5. É bom ter essas lembranças bonitas, reviver uma a uma faz bem para alma,afinal a vida é isso mesmo más e boas lembranças.

    Fiquemos com as boas.

    Bela Alfama,bela Lisboa,belo Fado.

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  6. Bem Hajas Story, Pela presença e pelo comentário

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