Parte de um trecho do livro Alfama
Henrique fora abordado,
em determinado momento, por um colega de trabalho que ele bem conhecia e
simpatizava pela sua sobriedade – O Augusto. Era um homem muito reservado, de
poucas palavras. Um dia, quando estavam nos balneários, perguntou-lhe se ele
estava disponível, nessa noite para dar um salto até à “Voz do Operário”-
precisava de falar com ele.
-Quero falar contigo, de
forma a não termos qualquer pessoa, por perto, a dar fé daquilo que vou-te
dizer.
-Henrique ficou numa
atitude expectante
-Há algum problema com a
oficina retorquiu por fim, Henrique, pensativo.
-Não, - está descansado
que é um assunto fora da área direta de trabalho – não fiques preocupado, pois
asseguro-te que não é caso para tal. – Logo verás!
Depois despediu-se
dizendo-lhe, em confirmação – Então, até logo às nove horas.
Henrique, a caminho de
casa transportando a sua lancheira de fole, onde levava o almoço, fato de
macaco, e o tal boné deformado, ia cogitando sobre o que Augusto “sisudo” (era
a alcunha) - lhe queria dizer. Estava morto de curiosidade, mas, também, de
alguma ansiedade.
Logo, depois da rotina,
que seguia, quando chegava a casa, sentou-se no banco da cozinha observando a
mãe aprontando o jantar, até lhe perguntar:
-Que está fazendo para o
jantar minha mãe?
-Olha, filho, uma sopa
de feijão encarnado. Como conduto, fritei besugos e fiz arroz de tomate e
pimento.
-Oh mãe digo-te que
estou cheio de fome.
-Vai ao armário, corta
rodelas de chouriço, mete numa bucha, e come com azeitonas. -Sempre dá para te
entreteres até o jantar estar pronto. Esperamos pela tua irmã que não tarda –
os velhotes já comeram e já se enfiaram no quarto. Os teus avós, já sabes como
são – café, pão, peixe frito, vinho e azeitonas, mais vinho do que pão e, lá
vão, um e outro praguejando por isto e por aquilo, para o quarto, – cada vez
estão mais velhotes. - O teu avô está mais corcunda pela constante posição de
estar sentado e curvado sobre os cestos. É a vida meu filho! - Temos de ter
paciência, terminou, resignada, abanando a cabeça.
Por este pequeno trecho já se pode ter certeza de que será um grande romance!
ResponderEliminarDesejo que a tua semana seja coroada de sorrisos e estrelas,
Helena
Gostei imenso de ler este belo pedaço de prosa.
ResponderEliminarBjo, amigo Helder :)